segunda-feira, 18 de abril de 2011

Mais de mil milhões de pessoas não terão água em 2050



Mais de mil milhões de pessoas, a maior parte dos quais nas cidades, terão falta de água em 2050, prevê um estudo hoje divulgado nos Estados Unidos (EUA).
Esta penúria ameaça as condições sanitárias de algumas grandes metrópoles mundiais e apresenta um risco para a fauna e a flora, avança a pesquisa, publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

Se a tendência atual da urbanização continuar, em 2050 cerca de 993 milhões de habitantes das cidades terão acesso a menos de 100 litros de água por dia para viver, o que corresponde ao volume de um banho por pessoa.

Se se acrescentarem os efeitos prováveis da mudança climática, cerca de outros 100 milhões de pessoas não terão acesso a este volume de água, considerado pelos analistas como o mínimo necessário para um indivíduo para as suas necessidades de bebida, alimentação e higiene.

«Existem soluções para que estes mil milhões de pessoas tenham acesso à água. Mas isso requer muitos investimentos nas infraestruturas e uma melhor utilização da água», destaca o principal coordenador da investigação, Rob McDonald, do centro de estudos privado The Nature Conservancy.

Hoje ascende a 150 milhões o número de pessoas que consomem menos de 100 litros por dia.

in http://sol.sapo.pt/inicio/Vida/Interior.aspx?content_id=15358 , 28 de Março de 2011

Humanidade vai precisar de dois planetas em 2030

Um planeta já não chega e o nosso “cartão de crédito ecológico” está a ficar sem saldo. Em 2030 a humanidade vai depender dos recursos naturais de dois planetas, algo que será “fisicamente impossível”, segundo o relatório bianual Planeta Vivo 2008 divulgado ontem.

O último relatório Planeta Vivo - da responsabilidade da organização WWF, Sociedade Zoológica de Londres e da Global Footprint Network -, foi publicado há dois anos. Estimava que só precisaríamos de dois planetas no longínquo ano de 2050. Agora estamos prontos para ultrapassar essa fronteira já em 2030, ou seja, quando os nossos bebés recém-nascidos estiverem a entrar para o mercado de trabalho.

Mathis Wackernagel, director-executivo da Global Footprint Network, diz que satisfazer esse nível de consumo será “fisicamente impossível” e que causará “falhas técnicas” nos ecossistemas que ameaçarão as bases económicas da sociedade. “A limitação de recursos e o colapso de ecossistemas vão fazer disparar os preços dos alimentos e da energia”, acrescentou para comentar o relatório que traça o estado da pressão humana no planeta e que a compara em 151 países.

Mas não é preciso esperar até 2030 para nos preocuparmos porque já estamos a viver acima das nossas capacidades desde os anos 80 do século passado. A realidade chega-nos através da nossa pegada ecológica. Para a calcular foram somados todos os solos agrícolas, pastagens, florestas e zonas de pesca necessários para produzir alimentos, para absorver emissões poluentes e para disponibilizar espaço para infra-estruturas. Uma vez que as pessoas consomem recursos vindos de todos os pontos do mundo, a sua pegada é a soma destas áreas, independentemente do local onde vivem.

Com base em dados de 2005, o relatório estima a pegada ecológica da humanidade em 17,5 mil milhões de hectares globais (gha, um hectare comparado à média mundial), correspondendo a 2,1 gha por pessoa. Ou seja, 31 por cento mais elevada do que a capacidade do planeta para produzir recursos naturais. Isto significa que hoje a Terra está a demorar um ano e três meses a repor aquilo que usamos num ano.

“Esta situação pode manter-se durante algum tempo. Mas se continuar pode levar à liquidação dos bens ecológicos do planeta e à depleção das florestas, oceanos e solos agrícolas dos quais depende a economia”, disse Wackernagel.

Três quartos da população mundial vive de “empréstimos ambientais”

Em média, cada pessoa tem à sua disposição 2,1 hectares. Mas essa superfície, equivalente a cerca de dois campos de futebol, não é suficiente para três quartos da população mundial. Por isso vivem de “empréstimos ambientais”, importando recursos. O quadro agrava-se se pensarmos que, por um lado, o número destes “devedores” está a aumentar e, por outro, a capacidade de reposição natural está a diminuir, influenciada pelas actividades humanas, incluindo as alterações climáticas.

Em 2005, os Estados Unidos e a China eram os países com maior pegada ecológica, cada um usando 21 por cento da biocapacidade do planeta. Nos Estados Unidos, por exemplo, um cidadão precisa de 9,4 hectares, em média. Os Emirados Árabes Unidos são o país com a maior pegada ecológica per capita, com 9,5 hectares; a média na União Europeia é de 4,7 hectares. Portugal tem uma pegada ecológica média de 4,4 hectares, estando em 28 lugar na lista de 151 países.

No fundo da lista estão o Haiti, Afeganistão e Malawi, com menos de 0,5 hectares. Em muitos casos, esta superfície não é suficiente para satisfazer necessidades tão básicas como a alimentação.

Mas o relatório Planeta Vivo de há dois anos foi publicado numa fase menos propícia a mudanças. A diferença é a crise financeira global e o repensar do funcionamento da economia. Para aproveitar este “momento histórico”, as Nações Unidas estão a trabalhar numa “nova ordem verde” mundial, lançada oficialmente a 22 de Outubro em Londres, capaz de reanimar a economia, evitar o colapso dos sistemas ambientais e criar milhares de empregos. O novo conceito inspira-se no “New Deal” de Franklin Roosevelt que pôs fim à Depressão da década de 30 do século XX.

A ONU vai apelar aos líderes mundiais, entre eles o próximo Presidente dos Estados Unidos, para redireccionarem os investimentos na direcção da “energia limpa”, agricultura sustentável, redução da desflorestação e das emissões poluentes e para a construção de cidades e edifícios mais sustentáveis.

Um artigo que faz a capa da revista “Newsweek” desta semana, dedicado à “nova ordem verde” mundial, defende que a ideia é capaz de ganhar terreno porque “a promessa de empregos é um incentivo mais forte do que a ameaça do degelo no Árctico”.

O que é certo é que a preocupação com o esgotamento dos recursos naturais não é de hoje. O mundo começou a preocupar-se na década de 60, ainda não tinha sido inventado o conceito de pegada ecológica. Em 1972, na véspera da primeira Conferência da ONU sobre Ambiente Humano, em Estocolmo, foi publicado o relatório “Só Há uma Terra”. Quase 40 anos depois continuamos a ser alertados para os nossos limites.

in http://ecosfera.publico.pt/noticia.aspx?id=1347961 , 29-10-2008

As alterações climáticas ameaçam 58% das espécies protegidas na Europa


Um estudo realizado pelo Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC), publicado no “Ecology Letters”, assegura que até ao ano 2080 58% das espécies de vertebrados terrestres e da flora presentes na Europa podem não subsistir nas áreas protegidas de cada país, devido às alterações climáticas.

Os autores, liderados por Miguel Araújo, analisaram a eficácia das políticas de conservação em 75% dos vertebrados terrestres e em 10% das plantas no continente. Da sua análise também se depreende que as alterações climáticas afectam mais de metade das espécies incluídas na rede de conservação europeia “Natura 2000”.

As zonas montanhosas, os vales encerrados e as linhas de água desempenham um papel fundamental na adaptação da biodiversidade às alterações climáticas. Ao proporcionar gradientes de temperatura e de humidade acentuados, diz o estudo, facilitam a adaptação das espécies mediante movimentos de curta distância que são mais fáceis e menos arriscados que as migrações continentais.

A rede Natura 2000 abrange 27.661 áreas, que se traduz num total de 117 milhões de hectares que constituem 17% da superfície dos 27 países que integram a União Europeia. O objectivo da rede é garantir a sobrevivência da biodiversidade a longo prazo. Para além disso, cada país designa as suas próprias áreas protegidas. Tudo isso faz com que a Europa seja a região com a maior rede de conservação no mundo.

Os investigadores aplicaram vários modelos climáticos para estudar a potencial distribuição de 1883 espécies, 585 vertebrados terrestres e 1298 plantas da Europa. Segundo explica Miguel Araújo,titular da Cátedra Rui Nabeiro/Delta do pólo da Universidade de Évora do CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos) e investigador principal do Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid, “temos observado que as áreas protegidas conservam melhor as espécies frente aos efeitos das alterações climáticas, mas a rede Natura 200 é mais vulnerável e poderá perder mais espécies”.

As zonas de conservação, designadas por cada país são mais eficazes porque geralmente se situam em áreas montanhosas, que actuam como “refúgios climáticos”. No entanto, além de regiões montanhosas, a Rede Natura 2000 inclui regiões com relevo pouco acidentado, como é o caso das áreas agrícolas, onde os impactes das alterações do clima na distribuição das espécies se intensificam. A investigação confirma que os maiores impactos serão no sul da Europa, enquanto as zonas altas de montanha europeias serão menos afectadas.

As conclusões apontam para a necessidade de designar novas áreas de protecção através de um processo de revisão e reclassificação das que já existem. Para além disso, os autores sugerem melhorar os sistemas de gestão da paisagem para facilitar a circulação das espécies entre as zonas de conservação.

"Até agora pensava-se que o êxito das estratégias de conservação implicava isolar todas as áreas protegidas de possíveis ameaças. No entanto, para serem eficazes, devem mitigar os impactos das alterações climáticas, para assegurar uma gestão sustentável dos habitats e dos ecossistemas ", destaca Araújo.

in http://naturlink.sapo.pt/article.aspx?menuid=20&cid=33980&bl=1 , 14 Abril de 2011